20/10/2009

A IMPRENSA EM ÁFRICA

Reporteres sem fronteiras / Reporters Without Borders / Reporters sans frontières

Terça-feira, 20 de Outubro de 2009

África
Entre crises políticas e violência, os jornalistas africanos à mercê da instabilidade do continente


O Corno de África afunda-se, Madagáscar e Gabão recuam, Zimbabwe progride
Este ano, e mais uma vez, o Corno de África foi a região do continente mais afectada pelos ataques à liberdade de imprensa. A Eritreia (175º lugar), onde nenhum meio de comunicação independente é tolerado e onde trinta jornalistas permanecem presos (tantos quanto na China ou no Irão, apesar de ter uma população infinitamente inferior) mantém-se na última posição mundial, pelo terceiro ano consecutivo. Quanto à Somália (164º), que vê partir a pouco e pouco os seus jornalistas, assume-se como o país mais mortífero para a imprensa, com seis profissionais do sector assassinados entre 1 de Janeiro e 4 de Julho.
O ano de 2009 confirmou que, nalguns países africanos, a democracia avança sobre bases sólidas e que o respeito das liberdades públicas se encontra assegurado. Noutros países, porém, as crises políticas e a instabilidade desferiram um rude golpe ao trabalho dos jornalistas e dos média.
Em Madagáscar (134º), por exemplo, que este ano retrocede quarenta posições, os meios de comunicação viram-se apanhados pelo confronto entre o presidente deposto Marc Ravalomanana e o presidente da Alta Autoridade da Transição, Andry Rajoelina. Censura, pilhagens e desinformação estão na origem do forte recuo da ilha, na qual um jovem jornalista foi morto ao cobrir uma manifestação popular. No Gabão (129º), o black-out mediático instaurado pelas autoridades quanto ao estado de saúde de Omar Bongo antes da sua morte e o ambiente de tensão em torno às eleições presidenciais do mês de Agosto entravaram o trabalho da imprensa. O Congo (116º) regista um retrocesso de vinte e quatro lugares, principalmente devido à morte em circunstâncias ainda misteriosas do jornalista de oposição Bruno Jacquet Ossébi e da perseguição a que foram sujeitos vários correspondentes da imprensa estrangeira no decorrer do escrutínio presidencial de 12 de Julho. Por fim, se na Guiné-Conacri (100º) a situação havia parecido calma ao longo do ano, os acontecimentos trágicos do passado dia 28 de Setembro e as ameaças explícitas actualmente dirigidas aos jornalistas pelos militares dão azo a profundas preocupações.
Outras transições decorreram de uma forma menos prejudicial para a liberdade de imprensa. É o caso da Mauritânia (100º), em que a eleição do general Mohamed Ould Abdel Aziz se desenrolou sem nenhum incidente importante para a imprensa, muito embora a prisão de um director de um site Internet venha manchar a imagem do país. Na Guiné-Bissau (92º), apesar dos assassínios do Chefe do Estado-maior das Forças Armadas e do Presidente João Bernardo “Nino” Vieira terem provocado a interrupção temporária de alguns meios de comunicação e a fuga de vários jornalistas importunados, o recuo é moderado.
Os Estados castigados pela violência marcam presença no último terço da classificação. A Nigéria (135º) e a República Democrática do Congo (146º) vivem ao ritmo das agressões e das detenções arbitrárias. Em Bukavu, capital da província do Kivu Sul (RDC), dois jornalistas de rádio foram assassinados.
Na sequência do endurecimento do controlo da informação devido à aproximação das eleições de 2010 – suspensão temporária de meios de comunicação locais e internacionais, condenação de jornalistas a penas de prisão –, o Ruanda (157º) prossegue a sua queda. Encontra-se agora a pouca distância do “Koweit de África”, a Guiné Equatorial (158º), onde o único correspondente da imprensa estrangeira cumpriu quase quatro meses de prisão por “difamação”.
Na África Ocidental, Mamadou Tandja e Yahya Jammeh, os chefes de Estado nigerino e gambiano, disputaram entre si a pior posição. Esta coube ao Níger (139º), que perde nove lugares, enquanto que a Gâmbia (137º) se vê mais uma vez prejudicada pela intolerância do seu Presidente, que não hesitou em mandar prender os seis jornalistas mais eminentes do país, antes de se lançar numa série de insultos e provocações públicas contra os mesmos.
No Zimbabwe (136º), a pressão sobre a imprensa parece finalmente afrouxar. O sequestro e a posterior detenção escandalosa, durante várias semanas, da ex-jornalista Jestina Mukoko deslustrou o panorama, mas o anúncio feito este Verão pelo governo de união nacional do regresso da BBC, da CNN e do diário independente The Daily News assume-se obviamente como um sinal de esperança.
Finalmente, o pelotão da frente mantém-se igual ao de 2008, com o Gana (27º), o Mali (30º), a África do Sul (33º), a Namíbia (35º) e Cabo Verde (44º) a posicionarem-se entre os cinquenta países mais respeitadores da liberdade de imprensa. Podendo-se orgulhar da sua alternância democrática após a eleição, em Janeiro de 2009, de John Atta-Mills, sucessor de John Kufuor, o Gana arrebata o primeiro lugar africano à Namíbia, onde uma jornalista sul-africana foi obrigada a passar uma noite na prisão antes de ser libertada contra o pagamento de duas cauções.

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AFRICA
Journalists prey to violence, political crises and instability

Madagascar and Gabon fall, Horn sinks deeper, Zimbabwe improves

See the 2009 world press freedom index (http://www.rsf.org/en-classement1003-2009.html)

The Horn was again the African region with the most press freedom violations. Eritrea (175th), where no independent media is tolerated and 30 journalists are in prison (as many as in China or Iran but with a much smaller population), was ranked last in the world for the third year running. Somalia (164th), which is steadily being emptied of its journalists, was the world’s deadliest country for the media, with six journalists killed between 1 January and 4 July.
This year confirmed that, in some African countries, democracy rests on solid foundations and respect for freedoms is guaranteed. But in other countries, political crises and instability dealt harsh blows to the work of journalists and news media.
In Madagascar (134th), which plummeted 40 places, the media were caught in a confrontation between ousted president Marc Ravalomanana and the president of the High Transition Authority, Andry Rajoelina. Censorship, violent attacks on media premises, disinformation and a young journalist’s death while covering a demonstration were the reasons for the island’s sharp fall in the index. In Gabon (129th), the media’s work was undermined by the news blackout about President Omar Bongo’s health which the authorities imposed in the run-up to his death and the poisonous climate during the presidential election in August.
Congo (116th) fell 24 places in the index, mainly because of the mystery surrounding opposition journalist Bruno Jacquet Ossébi’s death and the harassment of several foreign reporters during the 12 July presidential election. The situation seemed relatively calm this year in Guinea (100th), but the 28 September bloodshed in Conakry and the open threats against journalists currently being voiced by the military are a source of deep concern.
Some transitions were less damaging for press freedom. Gen. Mohamed Ould Abdel Aziz’s election as president in Mauritania (100th) went ahead without any significant problem for the press even if a website editor’s imprisonment hurt the country’s image. In Guinea-Bissau (92nd), the assassinations in quick succession of the armed forces chief of staff and President Joao Bernardo Vieira caused the temporary suspension of some media and prompted some worried journalists to flee the country, but the lasting impact was limited.
The countries with rampant violence continue to languish in the bottom third of the rankings. In Nigeria (135th) and Democratic Republic of Congo (146th), the practice of journalism is punctuated by physical attacks and arbitrary arrests. Two radio journalists were murdered in Bukavu, the capital of DRC’s eastern province of Sud-Kivu.
Rwanda (157th) continued to fall as the authorities reinforced news control in the run-up to the 2010 elections, temporarily suspending local and international news media and sentencing journalists to jail terms. It is now almost on a par with the “African Kuwait,” Equatorial Guinea (158th), where the foreign media’s only local correspondent spent four months in jail as a result of a defamation action.
Niger’s President Mamadou Tandja was in a close-run race with his Gambian counterpart, Yahya Jammeh, for West Africa’s worst ranking. It was taken in the end by Niger (139th), which fell nine places, two below Gambia (137th), which was again the victim of its president’s intolerance towards the media. This year, Jammeh sent six of the country’s most respected journalists to prison and then made insulting and provocative comments about them in public.
In Zimbabwe (136th), the press seems to be in the process of freeing itself from the regime’s vice-like grip. The situation was marred by former journalist Jestina Mukoko’s abduction and then imprisonment for many weeks. But hopes have been buoyed by the new government of national unity’s announcement in the summer that the BBC and CNN would be allowed to return and that the independent Daily News would be able to resume publishing.
The same group of countries lead the pack as in 2008. Ghana (27th), Mali (30th), South Africa (33rd), Namibia (35th) and Cape Verde (44th) are all among the world’s top 50. Boosted by yet another democratic election in January 2009, in which opposition candidate John Atta-Mills defeated the ruling party’s would-be successor to President John Kufuor, Ghana took Africa’s top position from Namibia, where a South African journalist spend a night in police custody before being freed on payment of two lots of bail.

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AFRIQUE
Entre crises politiques et violences, les journalistes africains à la merci de l'instabilité du continent

La Corne s'enfonce, Madagascar et le Gabon chutent, le Zimbabwe progresse

Voir le classement mondial 2009 (http://www.rsf.org/fr-classement1001-2009.html)

Cette année encore, la Corne de l'Afrique a été la région du continent la plus touchée par les atteintes à la liberté de la presse. L'Erythrée (175e), où aucun média indépendant n'est toléré et où trente journalistes sont emprisonnés, soit autant qu'en Chine ou en Iran, malgré une population infiniment moins nombreuse, se maintient au dernier rang mondial, pour la troisième année de suite. Quant à la Somalie (164e), qui se vide progressivement de ses journalistes, elle est le pays le plus meurtrier du monde pour la presse, avec six professionnels des médias tués entre le 1er janvier et le 4 juillet.

L'année 2009 a confirmé que, dans certains pays africains, la démocratie repose sur des bases solides et que le respect des libertés y est garanti. Dans d'autres pays, en revanche, les crises politiques et l'instabilité ont porté des coups très durs au travail des journalistes et des médias.

A Madagascar (134e) par exemple, qui perd cette année quarante places, les médias ont été pris au piège de l'affrontement entre le président déchu Marc Ravalomanana et le président de la Haute Autorité de transition, Andry Rajoelina. Censures, saccages et désinformation ont été à l'origine de la dégringolade de l'île, où un jeune journaliste a été tué alors qu'il couvrait une manifestation populaire. Au Gabon (129e), le black-out médiatique instauré par les autorités sur l'état de santé d'Omar Bongo avant sa mort et le climat délétère entourant l'élection présidentielle du mois d'août ont sapé le travail de la presse. Le Congo (116e) enregistre un recul de vingt-quatre places, principalement en raison de la mort encore mystérieuse du journaliste d'opposition Bruno Jacquet Ossébi et du harcèlement subi par plusieurs correspondants de la presse étrangère lors du scrutin présidentiel du 12 juillet. Enfin, si en Guinée (100e) la situation a pu sembler relativement calme au cours de l'année, les événements tragiques du 28 septembre et les menaces explicites adressées actuellement aux journalistes par les militaires nourrissent de vives préoccupations.

Certaines transitions ont été moins préjudiciables à la liberté de la presse. L'élection du général Mohamed Ould Abdel Aziz en Mauritanie (100e) s'est déroulée sans incident majeur pour la presse, même si l'incarcération d'un directeur de site Internet entache l'image du pays. En Guinée-Bissau (92e), les assassinats du chef d'état-major des forces armées puis du président Joao Bernardo Vieira ont certes entraîné la coupure temporaire de quelques médias et provoqué la fuite de plusieurs journalistes inquiétés, mais le recul reste mesuré.

Les Etats où la violence fait rage stagnent dans le dernier tiers du classement. Le Nigeria (135e) et la République démocratique du Congo (146e) vivent au rythme des agressions et des arrestations arbitraires. A Bukavu, chef-lieu du Sud-Kivu, deux journalistes de radio ont été assassinés.

En raison d'un renforcement du contrôle de l'information à l'approche des élections de 2010 - suspension temporaire de médias locaux et internationaux, condamnation de journalistes à des peines de prison -, le Rwanda (157e) n'en finit pas de sombrer. Il vient talonner le "Koweit de l'Afrique", la Guinée équatoriale (158e), où le seul correspondant de la presse étrangère a passé près de quatre mois en prison pour "diffamation".

En Afrique de l'Ouest, Mamadou Tandja et Yahya Jammeh, les chefs d'Etat nigérien et gambien, se sont disputé la plus mauvaise place. Celle-ci revient finalement au Niger (139e), qui perd neuf places, alors que la Gambie (137e) paye, une fois de plus, l'intolérance de son Président, lequel n'a pas hésité à envoyer en prison les six journalistes les plus réputés du pays avant de multiplier les insultes et les provocations publiques à leur égard.

Au Zimbabwe (136e) semble enfin se desserrer l'étau qui pesait sur la presse. L'enlèvement puis l'incarcération scandaleuse, pendant de longues semaines, de l'ancienne journaliste Jestina Mukoko, ternit le tableau, mais l'annonce par le gouvernement d'union nationale, cet été, du retour de la BBC, de CNN et du quotidien indépendant The Daily News est évidemment porteur d'espoir.

Enfin, le peloton de tête reste le même qu'en 2008, avec le Ghana (27e), le Mali (30e), l'Afrique du Sud (33e), la Namibie (35e) ou encore le Cap-Vert (44e) parmi les cinquante premiers pays les plus respectueux de la liberté de la presse. Fort d'une alternance démocratique réussie avec l'élection, en janvier 2009, de John Atta-Mills, successeur de John Kufuor, le Ghana a ravi la première position africaine à la Namibie, où une journaliste sud-africaine a dû passer une nuit en garde à vue avant d'être relâchée contre le paiement de deux cautions.

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Ambroise PIERRE
Bureau Afrique / Africa Desk
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